segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Viva Bem: Música para curar
Som pode ser utilizado como terapia
Raquel Bierhals/Ana Cláudia Dias
Quem não concorda que o simples escutar de som, uma canção que fez parte de sua história evoca sentimentos, recordações e sensações? Sim uma melodia pode representar o estado de espírito de um indivíduo ou até mesmo estimulá-lo a mudanças de humor e atitudes. É com esses elementos que trabalha a musicoterapia, ciência que utiliza a música para proporcionar qualidade de vida às pessoas.
Apesar de ser uma terapia relativamente nova no Brasil, os estudos científicos começaram na década de 1970, a música já era considerada mística por povos antigos e utilizada em favor da saúde, principalmente em rituais de fertilidade.
Como ciência, a prática começou a se estabelecer durante a Segunda Guerra Mundial. As enfermeiras que colocavam música ambiente para confortar os pacientes acabaram por perceber que estes se recuperavam mais depressa do que outros que não escutavam.
Desde o bebê, ainda dentro do útero materno, até a terceira idade, qualquer pessoa pode se beneficiar com a musicoterapia. E ao contrário do que se possa imaginar ela não se enquadra como uma terapia alternativa. É uma intervenção terapêutica, cujo objeto formal do estudo é o comportamento sonoro do paciente.
Individual ou em grupos a terapia só pode ser conduzida por um profissional graduado ou pós-graduado em Musicoterapia. Cabe a esse profissional analisar o estado emocional, comportamental e físico do paciente e através de uma entrevista inicial que informará sobre a história musical do cliente.
Para completar a análise do paciente é feita uma ficha musicoterápica, na qual o terapeuta coloca informações sobre o mundo sonoro do indivíduo. Por fim são colhidos dados (testificação musical) sobre a forma como o indivíduo se relaciona com a sonoridade dos instrumentos musicais.
“Para trabalhos em grupo é necessário que se reconheça uma deficiência em comum”, diz o musicoterapeuta Haroldo Campos, que junto com os terapeutas Sérgio Piñeiro e Ivanov Basso, organizaram o Núcleo Pelotense de Musicoterapia.
O tratamento musical tem um grande campo de atuação e há pesquisas realizadas em várias áreas como: nas deficiências mentais, físicas e sensoriais. Há também trabalhos direcionados a crianças e adolescentes carentes ou hiperativos e em geriatria, entre outros. “A música abre caminhos para o subconsciente, que o verbo não consegue atingir”, afirma Sérgio Piñeiro.
Musicalidade
Não é preciso que o indivíduo saiba tocar algum instrumento ou cantar para participar. A proposta é cada um utilizar sua musicalidade. Através disso se chega a um processo terapêutico. A intenção não é ensinar música, mas compartilhar sons.
Da mesma forma, algumas vezes o canto também entra. “É quando se passa da expressão não-verbal para verbal, e em alguns casos pode-se criar corais para estimular o canto”, conta o musicoterapeuta Nelso Vieira Barreto.
Terceira idade
Os pacientes da terceira idade são um dos públicos mais especiais da musicoterapia, pois o tratamento tem a qualidade de reviver situações e estimular habilidades cognitivas, as quais se necessita neste período da vida.
Para a terceira idade, a musicoterapia trabalha a memória, relações inter e intrapessoais, resgate de identidade e com possíveis doenças mentais, como Mal de Alzheimer.
Como a terapia com música estimula várias regiões do cérebro e ajuda a liberar endorfinas, que dão sensação de bem-estar e relaxamento, ela é indicada ao idoso que tende a ter depressão. “A musicoterapia é prazerosa e lúdica”, afirma Barreto.
A terapia surte excelente efeito sobre idosos que estão muito introspectivos ou acamados, podendo inclusive ajudar no resgate do vigor intelectual, destaca Sérgio Piñeiro, que tem trabalho específico na área.
A memória também pode ficar prejudicada nessa fase da vida, porque como qualquer outra função mental ela necessita de treino. Nelso Barreto salienta que nesta faixa etária é comum que o idoso relembre fatos muito antigos e esqueça os mais recentes. Para tanto, a música colaboraria para o exercício da memória de curto prazo.
Relações
Em alguns casos o tratamento em grupo é indicado à terceira idade. A musicoterapia estimula os relacionamentos dos idosos, tanto com outras pessoas quanto consigo. Dividir o espaço com indivíduos que passam pelas mesmas situações, conflitos e anseios, é também uma forma de dividir ansiedades, receios e medos do processo natural de envelhecimento.
Barreto salienta que atuar com o público da terceira idade é especial. “É muito prazeroso trabalhar com idosos, por causa da riqueza auditiva que eles têm. Antigamente, a comunicação era muito visual, mas mais auditiva, até mesmo por causa do rádio”, afirma.
E, nas escolhas dos idosos quanto à música trabalhada, sempre surgem as preferidas, dependendo da região. Um ressurgimento de Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Noel Rosa, entre outras figuras que povoam as recordações da melhor idade.
Saiba que:
A musicoterapia utiliza música e seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia), com o objetivo de desenvolver potenciais e/ou restaurar funções do indivíduo para que ele alcance uma melhor organização intra e/ou interpessoal e, conseqüentemente, uma melhor qualidade de vida.
Essa terapia pode ser aplicada na reabilitação de problemas físicos, motores ou mentais; na educação especial; em casos de obesidade, depressão, ansiedade, fobias, estresse, dificuldades de aprendizagem, acidente vascular cerebral, entre outras enfermidades.
A terapia é indicada tanto para bebês, ainda com vida intra-uterina, quanto para idosos.
Utilizada como terapia complementar, a musicoterapia freqüentemente é indicada por outros profissionais, como médicos, psicólogos ou fisioterapeutas. Esta aliança auxilia na recuperação e tratamento.
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