segunda-feira, 5 de julho de 2010
A MOENDA
Em um certo fim de ano, ao se encerrarem os cursos, fui o primeiro colocado em minha turma. Isso me fez muito vaidoso e passei a ver os meus companheiros pelo prisma de minha “superioridade”. Costumávamos passar as férias na praia, porém para surpresa minha e de meus irmãos, papai resolveu alterar o programa e aceitar o convite de um amigo, proprietário de um engenho de açúcar. E foi assim que rumamos para uma bela fazenda, em meio a um mar de canaviais. Naturalmente haveria pescarias, cavalos à nossa disposição e outros entretenimentos. A idéia não me desagradou. Os primeiros dias foram animados, porém logo me enfadei devido a ausência de companheiros para nossos programas. Os meninos da fazenda, também em férias, tomavam grande parte de seu tempo trabalhando no engenho. Uma manhã em que eu vagava indolente e meio enfastiado pelo jardim, meu pai se aproximou de mm e sugeriu:
- Você já visitou a bagaceira? É um lugar muito interessante. Além disso é ali que a maior parte dos meninos da fazenda consegue serviço. E é um trabalho muito curioso. Você gosta de formas de aprendizado, por que não faz uma experiência?
Gostei da idéia. Na bagaceira, naturalmente, depois de verificar o que se fazia, optei por auxiliar o menino Bento, visto que, saltando aos olhos, a sua tarefa era a que parecia mais fácil, não exigindo prática nem coragem. Bento, muito tímido e quase analfabeto, foi imediatamente julgado pela medida de minha “superioridade”.
Eu tinha que encher com bagaço de cana um couro cru, inteiro, que era, então, arrastado para a bagaceira por um cavalo guiado por meu companheiro. Em breve o suor me corria em bicas e o trabalho se atrasava. Então o homem da moenda começou a reclamar e foi a um canto conversar com Bento. Este se aproximou de mim cabisbaixo e timidamente me disse, gaguejando de atrapalhado:
- Você desculpe, mas o seu Dito acha que é melhor eu continuar sozinho. O serviço é simples, mas você não tem jeito pra isso.....
“Jeito pra isso”, pensei aborrecido. E voltei muito desconfortado para a fazenda. Meu pai veio alegremente ao meu encontro e perguntou:
- O que foi que você fez?
- Nada! Respondi.
E estava sendo honesto, pois tinha na consciência que, realmente, não havia feito nada.
- Bem, disse meu pai, não se aborreça. Quem sabe, pensando bem, você terá tirado algum bom partido da experiência?
E saiu passeado pela aléia sem outros comentários. Mas, de fato, houvera proveito.
Compreendi bem e guardei a lição, da qual nunca me esqueci ao longo do trajeto da vida. A partir daquele dia fiquei sabendo que, de fato, há diferenças entre os homens. Mas absolutamente, isto não significa superioridade para nenhum.
Em uma ou outra aptidão ou capacidade – desde que se disponha a alcançar o melhor – cada homem pode, sempre, ser superior......... Do livro E Para o Resto da Vida... de Wallace Leal V. Rodrigues
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