segunda-feira, 5 de julho de 2010
SOBRE DISCIPLINA...
PERGUNTA: Os professores falam em alunos indisciplinados, os alunos falam em professores bravos. Podemos sair desse olhar mútuo, deixar as acusações mútuas e pensar nas responsabilidades do convívio escolar?
EDUCADOR 1: Primeiro devemos começar por superar essa visão saudosista de que nós fomos filhos e alunos mais disciplinados. A indisciplina, a inquietação, o questionamento sempre foram qualidades da infância, da adolescência e da juventude de todos os tempos. Coitada da escola, ou da sociedade em que a infância ou a juventude perderem o questionamento e a inquietação. Só nos cemitérios e nos campos de concentração, ou nas ditaduras (lembram do filme "A vida é bela"?) encontraremos essa disciplina. Somente em escolas ou salas de aula que viraram cemitérios encontraremos essa disciplina. Encontraremos corpos infantis e juvenis cheios de vida disciplinados, silenciosos, quietos, parafusados em suas carteiras, rígidos, olhando para a nuca do colega da carteira da frente. Esse sonho nada tem de pedagógico. Todos sabemos de milhares de educadores e educadoras e de escolas que têm orgulho de educar crianças, adolescentes e jovens vivos, questionadores e estimulam essa vida, problematizam seus questionamentos. Educadores(as) que reinventam, como Paulo Freire, a pedagogia problematizadora, libertadora. É possível um convívio escolar humano. Conheço inúmeras escolas onde reina um clima alegre, humano, construído com empenho por educadores e educandos.
EDUCADOR 2: Parece-nos urgente trazer à consciência dos professores que liberdade e autoridade não formam necessariamente um antagonismo e sim que deveriam estar equilibradas, porém, equilibradas entre vários tipos de liberdade e autoridade, de acordo com a idade da criança. Se não me tomarem ao "pé da letra", isto é, como sendo uma "receita de bolo", para fins mais didáticos e práticos, poderia sugerir o que recomenda Rudolf Steiner, o fundador da Pedagogia Waldorf (1):
- 0 aos 7 anos: autoridade através do exemplo; direção absoluta.
- 7 aos 14 anos: autoridade natural baseada no amor, mão firme, mas, carinhosa; liberdade, ainda que orientada, nos sentimentos e na criatividade.
- 14 aos 21 anos: autoridade natural baseada nas qualidades pessoais (intelectuais, morais, etc.) do educador; liberdade e responsabilidade cada vez maiores.
- 21 em diante: plena liberdade e responsabilidade
"Em seu íntimo a criança quer ser compreendida, julgada, estimulada, eventualmente criticada. Quando pequena, quer sentir a segurança de ser guiada. Mas os adultos não querem, não sabem ou não podem fazê-lo... e dessa frustração nasce, em grande parte, o abismo entre as gerações." (2)
EDUCADOR 1: Professor Miguel González Arroyo, Ph.D. em Educação pela School of Education da Universidade de Stanford e ex-professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
EDUCADOR 2: Professor Anderson Paulino de Souza, das redes municipais de ensino do Rio de Janeiro e de Belford Roxo e, parafraseando Belchior, "...apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Mas que traz de cabeça uma canção... Tudo é divino, tudo é maravilhoso!"
Paz...Luz...Disciplina
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