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MINHA PARTICIPAÇÃO NA 3ª EDIÇÃO DO TERRA VIVA - POR UM MUNDO MELHOR, FALANDO SOBRE" TAI CHI CHUAN "

MINHA PARTICIPAÇÃO NA 3ª EDIÇÃO DO TERRA VIVA - POR UM MUNDO MELHOR, FALANDO SOBRE" TAI CHI CHUAN "

"É NA BUSCA POR UM ALENTO QUE SURGE ESSE PENSAMENTO: PARTILHAR NUNCA SERÁ EM VÃO"

MUITA PAZ A TODOS!! ESPERO QUE DESFRUTEM DESSE HUMILDE ESPAÇO.
"Não ame simplesmente o que você faz, ame o próximo! Ame a pessoa que está à sua frente, que o procura com seus dramas e desejos. Existe um ser humano à sua frente que precisa se sentir importante. Quem trabalha com amor e por amor jamais vai tratar os outros como coisas ou como partes de uma engrenagem."

"Harmonizar nossas personalidades é o maior desafio que podemos encarar. As três qualidades que nos permitem melhor alcançar este desafio são: amor, misericórdia e perdão. Primeiro e mais do que tudo, para nós mesmos. Seja misericordioso e perdoe a si mesmo. E com amor, esqueça as coisas do passado e siga adiante. Então você será capaz de ter sentimentos reais de perdão e amor pelos outros. Esta é a forma mais verdadeira de ajuda"

Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um broto a sair da semente o destrói. A certas coisas que não podem ser ajudadas. Tem que acontecer de dentro pra fora.
Rubem alves


"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade"
Carlos D. de Andrade

"A melhor maneira de se começar o dia é imaginar como podemos dar alegria a pelo menos uma pessoa" Friedrich Nietzche

"Não há projeto senão o da Paz, do Amor, da Alegria. Todos os outros planos são fúteis"
Pierre Lévy

" O conformismo é carcereiro da liberdade e o inimigo do crescimento"
John Kennedy


A magia do Toque

Tocar alguém é como descobrir este alguém. Através do toque, podemos sentir, de fato, a presença física de algum objeto ou pessoa. Não é à toa que as crianças, ao pedirem para ver alguma coisa, imediatamente querem tocar. E os adultos, também imediatamente, comentam: "para ver não é preciso pôr a mão!" será que não ?!
Depende da profundidade com que se quer ver! Quando tocamos alguém, conseguimos experimentar e vivenciar este alguém. E as crianças nada mais querem ( e precisam) que experimentar, sentir, descobrir e viver a vida e sensações que ela pode oferecer.
Por isso e por muito mais, tocar é mágico! Assim como também é mágico deixar-se tocar, pois através desde contato essencial, pode-se chegar à alma de quem toca e de quem deixa-se tocar.
A mão sabe!
A mão sabe mesmo, e sabe muito. Sabe mais que o intelecto, porque experimenta. As mãos estão nas extremidades dos braços, são membros que partem da linha do coração, é a continuação do centro cardíaco. O coração é a mente maior, é a inteligência pura.
As pessoas têm a errônea impressão de que devem consultar seu intelecto quando têm algum problema, no entanto, o intelecto é apenas um gerenciador de "arquivos", ou seja, de memórias, de vidas. Mas a vida em si está no coração de cada um.
As mãos estão repletas de energias e , ao tocar alguém, há uma troca de vibrações personalizadas. Portanto, a postura de quem toca deve estar livre para que este canal de doação e recepção esteja aberto e limpo. Para que as mão falem a linguagem do amor e da compaixão e para liberar esta energia contida no coração, é preciso humildade, Quem toca deve se encher de simplicidade e mentalizar: " Eu não sei nada!"
O toque transformador deve estar pleno de humildade. A palavra humildade vem do prefixo hummus, que significa fertilidade da terra - aquela que esta vazia e pronta para receber

Pele e Psiquismo

Tocar faz a diferença

A pele é o órgão de transformação de estímulos físicos em comunicadores químicos e em estados psicológicos. Em qualquer época da vida, um contato terno e amoroso na pele produz a sensação de apoio, consolo, companhia e presença amiga; um contato rude e agressivo faz a pessoa sentir-se rejeitada, desprezada, invadida e provoca-lhe reação de defesa ou raiva.
Portanto, a pele, além de órgão envoltório do organismo, com múltiplas funções de proteção e equilíbrio, informa o sistema nervoso permanentemente sobre o que se passa no ambiente e gera imagens mentais, emoções e sentimentos o tempo todo.
Todo estímulo que ela recebe origina algum estado interior. E isso não se limita ao óbvio, como temperatura, tato e pressão, para os quais existem receptores nervosos na estrutura da pele. Mesmo ondas sonoras são percebidas; qualquer tipo de som é captado não só pelos ouvidos, mas por todo o corpo. O musicoterapeuta Stephen Halpern conta, no livro Som Saúde, que duas pessoas surdas foram levadas a uma boate por um amigo e, apesar de não possuírem audição, depois de certo tempo decidiram sair daquele local, porque estavam sentindo dores no corpo provocadas pelo som elevado.

A couraça muscular

Fato impressionante, porém, é o endurecimento que as pessoas sofrem através da vida, o qual torna sua pele quase insensível aos estímulos físicos. Primeiro, por causa das restrições, das proibições, das limitações, dos nãos e das manipulações através do medo, da vergonha e da culpa, todos fatores geradores de estresse e, conseqüentemente, de tensão muscular e cutânea; depois, pela sexualização do contato físico, também estressante, imposta por informações viciosas passadas pelos pais, por educadores e pelas religiões.
Essas tensões, repetidas e acumuladas nas aponeuroses, nos músculos e na pele, acabam por endurecer a tal ponto esses tecidos que formam o que Wilhelm Reich chamou "couraça muscular do caráter": a pessoa praticamente anestesia sua pele e não consegue sentir o contato amoroso ou o repele por sentir-se amedrontado por ele.
Isso causa um enorme prejuízo emocional à pessoa, porque a necessidade de contato físico, essencial na infância, permanece por toda a vida e faz o ser humano sentir-se vivo. E o primeiro ambiente onde as pessoas podem aprender a tocar-se é a família. Lamentavelmente é aí que elas aprendem a não tocar nem ser tocadas pelos motivos mencionados.
A falta de contato físico entre as pessoas isola-as nos seus envoltórios cutâneos e faz com que percam a percepção do amor dos familiares e amigos, que são essenciais ao bom funcionamento orgânico. Entre os adultos só se entende e aceita contato físico por interesse sexual, mesmo que seja praticado maquinalmente. Nas prisões, o pior castigo é a solitária, onde o detido fica privado de qualquer tipo de contato com outro ser humano.
Essa exigência básica da natureza humana faz com que todos os indivíduos anseiem sempre por contato de qualquer tipo, visual, auditivo ou tátil para se sentirem reconhecidos como pessoas. Desses três tipos, o mais intenso é sem dúvida o contato pele a pele, seja por um aperto de mão, por uma carícia suave ou por um abraço; quando o indivíduo está fechado para esse tipo de estímulo, um contato agressivo ainda é menos ruim do que nada, pelo menos ele está sendo reconhecido.
Os poucos que estão abertos ao contato espontâneo, os que consideram o contato como natural e benéfico, têm mais possibilidades de praticar atos tão lúdicos e prazerosos como dançar com parceiro ou parceira e estão mais aptos a ter atividade sexual consciente e satisfatória.

Toque e equilíbrio

Por isso é fundamental para a vida equilibrada que as pessoas toquem as outras, aceitem ser tocadas pelas outras e toquem a si mesmas. Para tal é preciso dessexualizar o contato físico e tocar como simples reconhecimento do outro, para transmitir amor, amizade e estímulo, e aceitar o mesmo da parte dos outros.
Assim também é imprescindível que a pessoa toque a si mesma praticando a automassagem, método da medicina chinesa, que estimula todos os órgãos através de pontos de ativação dos meridianos, presentes na superfície da pele. A automassagem coloca o ser humano em contato com sua própria existência e concorre para a formação de uma autoimagem positiva.
Portanto, o toque na pele, o contato com a superfície cutânea, por meio do sistema constituído por terminações nervosas, vasos, células imunitárias e comunicadores químicos faz a diferença entre uma vida com bons relacionamentos e uma vida de isolamento e depressão.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ameaça - Os verdadeiros donos do mundo


Somos passageiros em um planeta controlado por bactérias e vírus. Nossa vida depende da nossa capacidade de enfrentá-los. O problema é que estão mais fortes do que nunca. E por nossa causa
por Alexandre Versignassi e Barbara Axt,Revista Superinteressante – 08/2009
De uma hora para outra pessoas iam dormir e não acordavam mais. Se você desse uma chacoalhada, ela até despertava. Aí comia alguma coisa, ia ao banheiro, mas sempre se arrastando pela casa, cansada como se tivesse passado dois dias sem dormir. Então ia para a cama de novo. Talvez para um sono sem fim. Esse sono mais do que mórbido matou 5 milhões de pessoas. Depois sumiu sem deixar vestígio nenhum. Até hoje ninguém sabe que vírus ou bactéria causou aquilo. Foi uma das pandemias mais violentas da história da humanidade.

E fora ter ganho um nome (encefalite letárgica - ou "inflamação no cérebro que deixa você pregado", em português claro) a doença continuou envolta em mistério. Apavorante. Mesmo assim a praga quase não chamou a atenção. É que logo depois surgiu um vírus bem pior: o H1N1. Em 25 semanas esse vírus matou mais gente do que 25 anos de aids. No começo, não parecia grande coisa. Quase todo mundo que pegava a gripe acabava sarando. O problema: uma hora tinha tanta gente infectada que a taxa de mortalidade, de 2,5%, foi o bastante para transformar meio planeta num inferno. Escavadeiras passaram a abrir valas para enterrar montes de corpos, embrulhados em lençóis. Chegou uma hora em que parentes das vítimas deixavam os corpos na rua para ser recolhidos. Uma em cada 36 pessoas do mundo acabou morta.

Era a gripe espanhola, causada por uma versão mais letal desse mesmo vírus de hoje, o influenza H1N1. Ela só agiu entre 1918 e 1919, mas foi o suficiente para matar 50 milhões num mundo com 1,8 bilhão de habitantes. Mais do que o dobro de mortos nos 4 anos da 1a Guerra Mundial.

Qual a chance de um estrago desse tamanho acontecer de novo? Os vírus e as bactérias são mesmo uma ameaça tão grande? Para entender a resposta, é preciso conhecer bem os micro-organismos. Saber como eles "pensam" e, principalmente, nos colocarmos no nosso lugar. Os micróbios são mais do que uma ameaça. E nós, menos do que vítimas. Somos apenas passageiros num mundo criado por eles. E totalmente dominado por eles. A começar pelo seu corpo.

AS BACTÉRIAS FIZERAM VOCÊ

Você é um sundae polvilhado com Ovomaltine. Pelo menos do ponto de vista dos micróbios. Existem mais bactérias pastando pela sua pele do que gente vivendo no planeta. Para elas, seu corpo é o paraíso, um lugar cheio de oásis onde água e comida jorram o tempo todo, na forma de água, sais minerais e gordura e proteínas. Cada um dos seus poros é como um restaurante onde tudo isso sai de graça. Em troca, elas deixam seu corpo fedendo. As axilas são mais problemáticas porque são as praças de alimentação mais concorridas, com glândulas que produzem mais óleos e proteínas de que elas gostam.

E isso porque a pele nem tem tantas bactérias assim, comparado com a parte de dentro. A realidade assusta. Nosso corpo é feito de 10 trilhões de células. E abriga 100 trilhões de bactérias. Da próxima vez que se olhar no espelho, lembre-se: 90% do que está ali não é você, mas uma megacivilização de micro-organismos. "Elas são, em suma, uma grande parte de nós. Do ponto de vista das bactérias, claro que somos uma parte bem pequena delas", definiu o escritor de ciência Bill Bryson em seu livro Uma Breve História de Quase Tudo.

Se elas dominam por dentro, não é diferente do lado de fora. Nas palavras de Nathan Wolfe, um dos infectologistas mais renomados de hoje, se existisse uma enciclopédia de 30 volumes listando tudo o que vive nesse planeta, 27 seriam para descrever vírus e bactérias. Eles formam literalmente uma população de peso. Caso desse para colocar na balança todas as coisas vivas do mundo, incluindo bichos, plantas e tudo o mais, 80% do peso total viria dos micróbios.

Nem precisa dizer que essa maçaroca de vida invisível coexiste em razoável harmonia com a gente. Dentro do corpo, os micro-organismos limpam o intestino, ajudam na digestão, fabricam vitaminas... São tão vitais quanto células humanas. Cada uma das nossas células, aliás, já nasce com uma bactéria dentro: a mitocôndria, responsável por fornecer energia para elas. São os micromotores que nos mantêm vivos.

Mas, se elas dão a vida, também sabem tirar. As bactérias só vivem em harmonia com a gente quando estão nas partes certas do corpo. É um equilíbrio pouco estável. Até as que moram no Jardim do Éden da sua pele podem ser mortais se forem parar na corrente sanguínea. É o caso da Pseudomonas aeruginosa. Ela causa a sepse, uma infecção que destrói os tecidos do corpo.

A doença afeta 400 mil pessoas por ano e mata a metade. Às vezes o tratamento é extirpar as partes infectadas. A sepse ficou conhecida por aqui em janeiro deste ano, quando atacou Mariana Bridi, uma modelo de 20 anos totalmente saudável. Ela teve os pés e as mãos amputados antes de morrer. E essa bactéria é só uma entre muitas que podem pegar qualquer um de surpresa, por mais jovem e saudável que a pessoa seja. Mesmo assim, elas não causam tanto medo quanto o outro protagonista do microcosmo: os vírus.

Muita gente trata vírus e bactérias como sinônimos. Em muitos casos, os dois até causam as mesmas doenças, como pneumonia e meningite. Mas não. Um é tão diferente do outro quanto um ser humano de um programa de computador. As bactérias podem até ser extremamente simples - são compostas de uma única célula, tão pequenas que daria para colocar 3 milhões delas na cabeça de um alfinete. Mas são seres vivos como qualquer outro. Elas respiram, comem e se locomovem. Basta haver nutrientes por perto que elas vivem e se reproduzem à vontade. São donas do próprio nariz. Os vírus não.

Para começar, os vírus são bem menores. Se eles tivessem o tamanho de uma pessoa, as bactérias seriam da altura do Cristo Redentor. E mais importante: são incapazes de fazer qualquer coisa sozinhos. Imagine um programa de computador, um dvd do Windows, sem computador. Ele só vai servir para você jogar frisbee. E um vírus é basicamente isso. O software ali é um pedacinho de código genético impresso num pacote de proteínas, com as instruções de como reproduzir o vírus. Mas não há hardware. O vírus é inerte como uma pedra, sem o poder de respirar e comer para gerar sua própria energia - e com ela se reproduzir. Mesmo assim, a vontade de se multiplicar está lá. Igual a você e às bactérias, ele foi feito para gerar descendentes.

Como fazer isso se você é uma pedra? Pegando uma carona em quem pode. Ou seja: nas células dos seres vivos, que é quem sabe fazer isso. Cada célula, seja uma das 10 trilhões do seu corpo, seja a de uma bactéria, é basicamente uma fábrica de fazer novas células, usando nutrientes como peças de construção. O que o vírus faz, então, é invadir a célula e tomar o controle das operações. Transformá-la numa fábrica de novos vírus. Num zumbi a seu serviço.

Os vírus conseguem invadir as células porque elas têm "fechaduras" violáveis. E cada tipo de vírus tem a chave para entrar em um tipo de célula. Por isso que cada um causa uma doença diferente. O HIV, por exemplo, só tem a chave para entrar num certo tipo de célula, chamada CD4, que é fundamental para o funcionamento do sistema imunológico. Ao transformá-las em zumbis, destrói as defesas do organismo. E o corpo do paciente fica vulnerável, sem ter como dar conta nem de doenças brandas. Note bem: se a chave que o HIV carrega fosse para outro tipo de célula, a aids não existiria, ele provavelmente seria um vírus sem nada de mais.

Só continuamos vivos em meio ao bombardeio de vírus, que é diário, por um motivo: nosso sistema de defesa é incrivelmente complexo. Evoluiu ao longo de bilhões de anos, desde os nossos ancestrais de uma célula só, para lutar contra esses invasores. E vencer a qualquer preço. A defesa começa na pele. Ela funciona como uma armadura por um motivo que pode parecer mórbido: a pele é coberta por células mortas. E os vírus não infectam células mortas porque... estão mortas, oras. Não têm como virar fábricas de novos vírus (ah, não esquente a cabeça: pode se esfregar o quanto quiser no banho que essa proteção não vai diminuir).

Bom, já que a pele não deixa, os vírus precisam entrar pelos nossos furos: nariz, boca, genitais, ou ir direto para a corrente sanguínea, geralmente via mosquito. Mas é quando conseguem entrar que os vírus e outros invasores se deparam com as nossas armas mais sofisticadas: os linfócitos. São células feitas para matar, que atiram primeiro e perguntam depois. Literalmente: o corpo produz 50 bilhões de linfócitos todos os dias. Cada um capaz de reconhecer um tipo vírus. Como o corpo sabe quais vírus existem por aí? Ele não sabe. Então atira para todo lado produzindo linfócitos capazes de reconhecer qualquer combinação de proteínas possível. Se um vírus estranho penetrar no seu corpo, um desses bilhões de linfócitos vai reconhecer a célula infectada. E, quando isso acontece, rola uma operação quase mágica: o linfócito começa a se dividir, gerando um exército de clones especializados em destruir a célula contaminada com aquele vírus. Esse processo todo demora alguns dias.

Nisso, o vírus tem tempo de se multiplicar e causar os sintomas da doença antes de ser atacado. Mas, uma vez que o exército de clones se forma, ele fica para sempre no seu corpo. Continua fazendo patrulha para o resto da sua vida. É por isso que, quando você pega alguma infecção viral, geralmente acaba imunizado contra ela para sempre. Não foi que o seu corpo "aprendeu" a combater a doença. Ele já sabia antes. Já tinha produzido um anticorpo contra o vírus por tentativa e erro. Mas precisou que o bichinho invadisse primeiro para produzir um batalhão de clones do linfócito certo. E aí, sim, ficar imunizado. É assim que as vacinas funcionam: os médicos injetam proteínas de algum vírus no seu corpo (não vírus inteiros, só suas impressões digitais, por assim dizer). Elas deixam você doente, mas iniciam uma produção em massa de clones contra ela. E eles vão ficar lá para sempre.

Mas, se essa Otan dentro do seu corpo é tudo isso, por que não vencemos os vírus de uma vez? O problema é que alguns deles criaram táticas para driblar essa vigilância. O da aids, por exemplo, sabe se esconder do exército anti-HIV que se forma depois de uma invasão. E continua agindo por baixo dos panos, para sempre. Além disso, os vírus têm um grande aliado no planeta: nosso modo de vida. O surgimento de vírus novos e mais destruidores é uma consequência direta da civilização.


NÓS FIZEMOS OS VÍRUS (OU QUASE)

Você não gostaria de estar na pele de um vírus letal há 20 mil anos. Pelo menos não na de um dos que atacam seres humanos. É que a oferta de gente no planeta era de doer. O que tinha era alguns milhares de pessoas vivendo esparsas em tribos de caçadores. Se você fosse um vírus mortal, não daria muito certo: contaminaria um homem e, quando tivesse se disseminado para umas 100 pessoas, exterminaria a tribo e ficaria sem sua única fonte de vida. Péssimo negócio. "Não que não existissem vírus violentos na época. Mas eles não vingavam.

Provavelmente destruíam todos os seus hospedeiros e morriam junto, antes que eles tivessem tempo de espalhar mais a doença", diz o infectologista Stefan Ujvari, um especialista na evolução dos micro-organismos. Desse jeito, os vírus que deram certo na época, e que continuaram firmes até hoje, foram os mais brandos. Como o da herpes: ele fica lá quietinho na mucosa genital e só "acorda" de vez em quando, causando feridas por onde sai para tentar invadir alguém que o hospedeiro dele levou para a cama. Depois as feridas cicatrizam e o vírus continua lá, sem causar mais danos e à espera de uma nova chance de se espalhar.

Matar a pessoa seria suicídio. Mas uma hora isso mudou. Há 10 mil anos o homem descobriu um modo de vida mais eficiente que a caça: a agricultura e a criação de animais. A fartura de alimentos fez a população se multiplicar. Agora a vida de um vírus letal não seria mais tão difícil. Do ponto de vista de um deles, a oferta de corpos para invadir estava uma beleza. Mas de onde eles viriam? Dos animais que estavam por perto. Com os primeiros criadouros, passamos a conviver com quantidades industriais de fezes, urina e outras secreções do gado. Além disso, a domesticação aumentou muito a população desses animais. Mais corpos para os vírus invadirem. E variações mais letais desses micro-organismos começaram a aparecer no gado. Era questão de tempo para que algum vírus assim saltasse para nós.

E foi o que aconteceu. Quem diz é a genética. Nos últimos anos, a ciência ganhou o poder de rastrear a origem dos vírus. Geneticistas comparam vírus nossos com os de animais e conseguem traçar a época em que eles tiveram um ancestral comum. Nisso, concluíram que o vírus do sarampo é parente de um que ataca o gado, o da peste bovina. Ou seja: o vírus dos bois passou por uma mutação genética na época das primeiras criações e adquiriu o poder de invadir pessoas. Invadir e, agora, matar sem dó: sarampo parece besteira para quem passou pelas vacinações em massa contra a doença - como você, provavelmente. Mas até hoje, nas áreas onde não há vacina, o sarampo mata mais de meio milhão de pessoas por ano.

Se o sarampo veio da criação de bois, a gripe é um filhote dos chiqueiros e galinheiros. O caminho do influenza começa nas aves selvagens, que carregam o vírus sem ter como infectar humanos. Mas a civilização deu um jeito de isso acontecer. Durante suas migrações, os pássaros selvagens acabavam bebendo água nos reservatórios das criações de galinha. E também faziam suas necessidades por lá. Aí as galinhas bebiam a água contaminada pelas fezes e pegavam o vírus. Como galinhas e porcos sempre foram criados meio juntos, não demorou para que surgisse algum vírus mutante dessa gripe aviária capaz de atacar os suínos. Nisso o vírus foi circulando entre várias espécies de suínos, aves domésticas e selvagens. Agora imagine: quando duas mutações de um mesmo vírus se encontram no mesmo organismo, e isso aconteceu nas criações de porcos e galinhas, o "casal" pode recombinar seus genes na forma de 256 vírus diferentes. E esses vão se recombinando e recombinando dentro do corpo dos bichos. Aí foi questão de tempo para surgir uma variação que infectasse o homem. No caso, o vírus da gripe humana.

Mas a festa do influenza não parou por aí. Os porcos ficaram vulneráveis à gripe humana e à aviária, além de terem a gripe exclusiva deles. Então até hoje acontece uma suruba genética lá dentro. E versões novas e imprevisíveis do vírus continuam aparecendo. É por isso que todo ano surge uma gripe diferente, que o nosso sistema imunológico não conhece. No fundo, qualquer uma delas pode ser chamada de "gripe suína", pois todas são geradas nesse misturador de vírus que são os porcos. Se a cada ano vem uma gripe nova, em intervalos mais longos aparecem algumas realmente violentas. Foi o caso de 1918. E de agora.

A NOVA ONDA DE DOENÇAS

Apesar de o sistema de saúde hoje ser bem melhor que o do começo do século 20, os criadouros de vírus também são. Hoje há 1 bilhão de porcos no mundo. E quase 3 galinhas por habitante. Se o consumo de proteínas continuar crescendo nos países em desenvolvimento (o que é ótimo), esses números vão triplicar. E a chance de aparecer novas gripes mortais também. A última que meteu medo no planeta aconteceu logo ali, em 2003: foi a gripe aviária, que infectou 423 pessoas e matou 258 - incríveis 61% de fatalidade, contra 0,024 das gripes comuns e cerca de 1% da gripe suína onde ela pegou mais forte. A aviária acabou controlada. A de hoje talvez não fique tão pesada quanto a espanhola. Mas não dá para prever o que pode vir por aí.

"Hoje os sistemas de saúde global funcionam como os cardiologistas dos anos 50, que só podiam esperar por um enfarte para depois agir. Na época, não entendiam como fazer a prevenção", diz o infectologista Nathan Wolfe, que além de dar aulas na Universidade Stanford também é diretor da Iniciativa Global de Prevenção de Vírus. Nathan e seu grupo recolhem amostras de sangue de animais em busca de vírus que possam representar perigo para o homem.

Esse tipo de monitoramento é o melhor jeito de prevenir novas pragas. Só tem um problema: ele é raro. "O monitoramento da gripe aviária é eficaz porque se trata de uma doença capaz de matar uma criação inteira, causando prejuízos sérios ao produtor. Já os porcos não morrem de gripe, então não existe uma vigilância sistemática", diz a infectologista Nancy Belley, da Unifesp. A solução? Aumentar essa vigilância, além de separar criações de galinhas e porcos e mantê-los em condições higiênicas. Só que isso ainda é utopia, principalmente nos países mais probres.

E mesmo assim não seria a salvação: a qualquer momento 500 mil pessoas estão em aviões cruzando o planeta. Junte isso ao fato de que nunca estivemos em contato com tantos vírus novos, seja pelo aumento na quantidade de animais de criação, seja pela caça de animais selvagens, que podem espalhar mais vírus para nós. Desse jeito, um caçador na África pode pegar um vírus mortal e, em questão de dias, estar em outro canto do planeta transmitindo o vírus. Foi o que aconteceu com o HIV, que veio de macacos. Por isso mesmo, pesquisadores acreditam que estamos no meio de uma segunda onda de novas doenças. A primeira foi aquela de 10 mil anos atrás, quando a civilização começou. Outro ponto: não dá para prever novas mutações. O HIV, por exemplo, só não é transmissível por mosquitos, como a dengue, porque não sobrevive dentro do inseto. Mas basta uma mutação simples para que isso aconteça.

No mundo das bactérias não é diferente. Há meio século, um ministro da Saúde Pública americano disse que "as doenças infecciosas estavam eliminadas dos EUA". Fazia sentido. Naquele tempo, a penicilina, rainha dos antibióticos, parecia mesmo eficaz contra praticamente qualquer ataque bacteriano. Mas ele estava errado. A lógica da evolução funciona rápido com bactérias. Em pouco tempo surgem micro-organismos mutantes, que resistem aos antibióticos. E eles tomam o lugar dos micróbios vulneráveis na natureza, deixando nossos remédios obsoletos. Além disso, o homem dá uma força para que isso aconteça.

A maior parte dos antibióticos produzidos no mundo vão para as rações de gado, como precaução contra infecções e porque faz os bichos crescer mais rápido. É a melhor oportunidade do mundo para que as bactérias desenvolvam resistência aos remédios. Existem iniciativas para combater isso, pelo menos. Desde os anos 90 governos do mundo todo, Brasil incluído, proíbem o uso de vários antibióticos para promover o crescimento. Nos EUA, o governo estuda a possibilidade de banir os antibióticos das rações, e usá-los só quando o animal estiver doente. Também não é a panaceia, já que a mera existência dos antibióticos na farmácia é o bastante para criar bactérias mais resistentes. Por outro lado, não podemos viver sem esses remédios. Seria suicídio.

É isso: não existe fórmula mágica para derrotar micro-organismos. Mas isso não significa que eles não podem ser úteis. Enquanto você lê esta página, médicos do hospital Cedars-Sinai, nos EUA, se preparam para combater tumores no cérebro com um vírus geneticamente modificado. Até o fim do ano eles pretendem usar o vírus para invadir células cancerosas de pacientes e matá-las, sem danificar as células normais. A técnica já deu certo em bichos. Esse e outros tratamentos parecidos estão em fase experimental, mas já começam a descortinar um lado bom para esses demônios. Pois é: se não pode vencê-los, junte-se a eles.

Para saber mais:
The Invisible Enemy, Dorothy Crawford, Oxford Press.

A História da Humanidade Contada pelos Vírus, Stefan Cunha Ujvari, Editora Contexto.

Breve História de Quase Tudo, Bill Bryson, Companhia das Letras.

Um comentário:

  1. queria que vc me desse um exemplo de uma resenha os donos do mundo............

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