quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Entrevista Dudé Cantor, Ator e Modelo
Me enche de prazer blogar sobre esses lindos exemplos de seres humanos!! pra vc tbém Dudé meus respeitos e um bjo no seu coração! Paulo Tisi
Atualmente dou aulas de Canto Popular em minha residência. Montei um Home Studio onde produzo alguns cantores, além dos meus próprios alunos. Também trabalho como modelo fotográfico para a agência da fotógrafa Kica De Castro.
1)Idade e profissão:
R: 37 Anos. Músico, ator de teatro e modelo fotográfico.
2) Atividade atual:
R: Atualmente dou aulas de Canto Popular em minha residência. Montei um Home Studio onde produzo alguns cantores, além dos meus próprios alunos. Também trabalho como modelo fotográfico para a agência da fotógrafa Kica De Castro.
3)Endereço de seu blog ou site:
R: www.myspace.com/dudevocalista
http://dudevocalista.blogspot.com/
4)Sua deficiência:
R: Tenho má formação congênita múltipla (não tenho as mãos e a perna direita).
5)Estado Civil:
R: Solteiro
6)Fale um pouco sobre sua deficiência:
R: Minha deficiência é uma má formação congênita que foi causada por um fenômeno genético pouco conhecido chamado B.R.I.D.A. Durante muito tempo acreditou-se que o meu caso era fruto da Talidomida. Hipótese que foi descartada após avanços no estudo do Genoma Humano.
7)Como foi a sua infância?
R: Minha infância foi como de qualquer outra criança. A única diferença foi que tive que fazer uma série de cirurgias de correção da minha perna e cotos, além das sessões de fisioterapia intensiva. Passei boa parte da minha vida num centro de reabilitação. Mesmo assim, não deixei de brincar muito, aprontar muito, levar muita bronca dos meus pais por extrapolar nas brincadeiras de vez em quando. Joguei muito futebol, andei bastante de carrinho de roleman e fui parar várias vezes no pronto-socorro pra engessar um braço ou tomar pontos no super cílio. Eu era hiper ativo quando moleque.
8)E a sua adolescência, como foi?
R: Acho que foi durante a adolescência que comecei a perceber que minha diferença incomodava a alguns, mas nada que me intimidasse ao ponto de me sentir forçado a me fechar numa “bolha de vidro”, em virtude do preconceito. Sempre soube me defender e me colocar numa postura da qual preconceituoso nenhum me intimidava. Porém, tenho ótimas lembranças da minha adolescência: as baladas, os amigos de colégio e as primeiras experiências como músico (comecei a cantar na noite com 17 anos).
Se eu falar que minha adolescência foi a ferro e fogo, estarei mentindo. Apesar das dificuldades, tive muito mais momentos bons do que ruins.
9)Como conseguiu superar esses momentos?
R: Superar momentos difíceis? Só existe um jeito: cabeça erguida! Quem abaixar a própria cabeça frente as dificuldades, vai fazê-lo sempre. Eu nunca abaixo minha cabeça pra nada! Outra coisa que ajuda muito é a postura: se você se colocar como coitado, vão te ver como coitado. Isso é básico! Aonde vou nunca permito que minha deficiência seja maior que eu. Minha deficiência é só parte de mim, mas não me resume como ser humano. Meu lado “eu”, vai bem mais além do que isso. A partir do momento que a gente se coloca numa condição de igual pra igual, as pessoas nos enxergam como tal. Ganhei meu espaço até hoje por mérito e nunca utilizei minha deficiência pra conseguir nada. Meu espaço foi garantido pelo meu esforço. Aliás, como qualquer um. Sendo deficiente, ou não.
10)Quanto a sua profissão, como se desenvolveu?
R: Eu comecei a fazer parte de bandas aos 16 anos. Comecei a cantar em bandas cujos participantes eram meus amigos de colégio. Me apresentei em festivais colegiais e festinhas de aniversário de amigos até meus 17 anos, quando fui cantar profissionalmente numa banda de Blues. Nesse meio tempo, comecei a estudar Canto Popular. Trabalhei como vendedor de instrumentos musicais e técnico de som num estúdio de gravação pra bancar meus cursos. Em 94, comecei a fazer aulas de Canto com Nando Fernandes, um dos melhores professores de São Paulo. Tive aulas com ele até 2000. Em 98, tive minha primeira experiência como professor de Canto. Trabalhei num centro de reabilitação, dando aulas para os adolescentes com deficiência física na faixa dos 13 aos 18 anos. Em 2000, terminei o curso com Nando Fernandes. Lecionei em alguns conservatórios de 2000 a 2002, quando montei meu Home Studio para lecionar na minha própria casa. Em 2004, entrei para a Oficina dos Menestréis e através da Cia Mix Menestréis, participei de várias temporadas do espetáculo Good Morning São Paulo Mixtureba, tanto no teatro Dias Gomes aqui em São Paulo, quanto em algumas cidades no interior. Em 2006, participei do quadro “QUEM SABE, CANTA. QUEM NÃO SABE, DANÇA” do Programa Raul Gil, ainda quando o mesmo era veiculado na Rede Record. Em 2008, fiz meu primeiro book para a agência da fotógrafa Kica de Castro. Participei de várias matérias envolvendo a agência. Inclusive, um SBT Repórter que foi ao ar em outubro do mesmo ano. Também em 2008, tive um show gravado pela minha banda (Easy Rockers) transmitido pela famosa Kiss FM, a única rádio especializada em Rock And Roll aqui em São Paulo.
11)Como você percebe a relação da sociedade com quem possui algum tipo de deficiência?
R: Nós estamos ainda muito longe do ideal, mas é perceptível que conseguimos alguns avanços sociais importantes. Hoje em dia, a questão da inclusão do deficiente na sociedade é discutida, pelo menos. Há 10 anos nem isso era feito. Porém, ainda existe muito a ser feito para que o deficiente seja realmente visto de igual pra igual, perante a sociedade. Acho que o que falta é mais ação e menos discurso. Tem muita gente falando muito a respeito, mas agindo muito pouco. Todos nós temos nossa parcela de responsabilidade e não adianta ficar apenas procurando culpados. Temos é que achar soluções e, principalmente, agir.
12) Você teve alguma dificuldade na área profissional?
R: Não. Meu currículo fala por mim. Se alguma banda deixou de trabalhar comigo, por razões de preconceito, quem perdeu foi a banda. Não, eu. Eu recebo uma média de 3 a 4 convites por mês pra trabalhar com bandas. Nesse caso, voltamos ao assunto da postura que nos colocamos frente ao nosso perfil profissional. Preconceito se combate mostrando o quanto que o preconceituoso está errado. E eu não vou chegar a lugar nenhum enterrando minha cabeça na areia feito um avestruz, cada vez que acontece algo de errado comigo. Que os deficientes tomem consciência de que é a vida, o futuro deles que está em jogo quando eles se trancam em casa, na eventualidade deles passarem por algum episódio envolvendo preconceito. Sei o quanto é complicado (lembrem-se que também sou deficiente), mas quem comanda minha vida sou eu. E não um ignorante qualquer que venha a fechar alguma porta pra mim por preconceito. Se alguém fecha uma porta na minha cara, abro no ponta-pé! Porque não to pedindo favor para ninguém, não quero migalha de ninguém. To nesse mundinho de meu Deus pra vencer na vida como todo mundo e por meu mérito.
13) E qual a sua opinião sobre a pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho?
R: Eu tenho notícias de deficientes trabalhando nas mais diferentes áreas e com um altíssimo grau de competência e responsabilidade. Essa é a parte bacana da história.
A parte triste é que para que esses deficientes entrarem no mercado de trabalho foi necessário criar a lei de cotas. Isso é um grave sinal de que nossa sociedade tem muito que evoluir para enxergar a pessoa com deficiência, no mesmo pé de igualdade que todo mundo. Mas ainda tenho fé que esse tipo de raciocínio irá mudar com o tempo.
Tenho certeza que o Brasil será um país onde o deficiente físico competente e responsável consiga uma vaga de emprego sem precisar das cotas. Sua força de vontade, competência e gana para vencer na vida serão suficientes para que arrume emprego. Mas, enquanto isso não acontece que façamos valer no direito às cotas, pois merecemos trabalhar e ser público consumidor como qualquer outro.
14) Qual a sua mensagem para os portadores de deficiência que ainda não alcançaram esse otimismo?
R: Não se tranque em seu “mundo”. Aja e reaja, pois é o seu destino que está em jogo.
Deus nos deu como maior presente, o dom da vida. Portanto, desfrute! Não seja mais um que parou no tempo, só porque terceiros te disseram que você não consegue. Ouça sempre seu coração, ao invés da ignorância alheia. Seja dono de seus atos, seja feliz, forte, corajoso e orgulhoso de suas conquistas, pois elas são aquilo que você carrega de mais precioso. Portanto, não deixem que lhe tirem isso! Mas haja com maturidade, frente às dificuldades para não perder a razão.
Resumindo: seja dono do seu tempo! E viva muito.... muito mesmo!!
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